31 agosto, 2008

A sabedoria do silêncio

Rubem Alves



Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as
Flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma".
Filosofia é um monte de idéias dentro da cabeça sobre como são as coisas.
Para se ver é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é
Dito é preciso também que haja silêncio dentro da alma".
Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar
Um palpite melhor sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a
dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração.
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa
arrogância e vaidade: no fundo somos os mais bonitos...

Tenho um velho amigo Jovelino que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela evolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios: reunidos os participantes ninguém fala. Há um longo longo silêncio. (Os Pianistas antes de iniciar o concerto diante do piano ficam assentados em silêncio[...]. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas.).Todos em silêncio à espera do pensamento essencial. Aí de repente alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala novo silêncio.
Falar logo em seguida seria um Grande desrespeito pois o outro falou os seus pensamentos pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
Se eu falar logo a seguir são duas as possibilidades.

Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade não ouvi o que
você falou. Enquanto você falavaeu pensava nas coisas que iria falar
Quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado".

Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já
Pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou".
Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma Bofetada.
O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo
Que você falou". E assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de for a. É preciso silêncio dentro. Ausência de Pensamentos.
E aí quando se faz o silêncio dentro a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência e se referia a algo que se ouve nos
interstícios das palavras no lugar onde não há palavras.
A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do
mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.
Aí livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia ouvimos a melodia que não havia que de tão Linda nos faz chorar.

Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância e saber ouvir OS outros: a beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

30 agosto, 2008

Classe Média - Max Gonzaga

Clipe de animação feito para a música de Max Gonzaga - Classe Média

Bob Dylan - Ain´t Talkin´

A música a seguir conta a trajetória de uma pessoa estranha ao seu mundo. Alguem que se cansou de todo que está a sua volta e se deu ao direto de apenas caminhar. Refletindo sobre as coisas que estão a sua volta.



Letra da música - Ain´t Talkin´

As I walked out tonight in the mystic garden
The wounded flowers were dangling from the vine
I was passing by yon cool crystal fountain
Someone hit me from behind

Ain't talkin', just walkin'
Through this weary world of woe
Heart burnin', still yearnin'
No one on earth would ever know

They say prayer has the power to heal
So pray from the mother
In the human heart an evil spirit can dwell
I am a-tryin' to love my neighbor and do good unto others
But oh, mother, things ain't going well

Ain't talkin', just walkin'
I'll burn that bridge before you can cross
Heart burnin', still yearnin'
There'll be no mercy for you once you've lost

Now I'm all worn down by weeping
My eyes are filled with tears, my lips are dry
If I catch my opponents ever sleeping
I'll just slaughter 'em where they lie

Ain't talkin', just walkin'
Through the world mysterious and vague
Heart burnin', still yearnin'
Walkin' through the cities of the plague.

Well, the whole world is filled with speculation
The whole wide world which people say is round
They will tear your mind away from contemplation
They will jump on your misfortune when you're down

Ain't talkin', just walkin'
Eatin' hog eyed grease in a hog eyed town.
Heart burnin', still yearnin'
Some day you'll be glad to have me around.

They will crush you with wealth and power
Every waking moment you could crack
I'll make the most of one last extra hour
I'll revenge my father's death then I'll step back

Ain't talkin', just walkin'
Hand me down my walkin' cane.
Heart burnin', still yearnin'
Got to get you out of my miserable brain.

All my loyal and my much-loved companions
They approve of me and share my code
I practice a faith that's been long abandoned
Ain't no altars on this long and lonesome road

Ain't talkin', just walkin'
My mule is sick, my horse is blind.
Heart burnin', still yearnin'
Thinkin' 'bout that gal I left behind.

Well, it's bright in the heavens and the wheels are flyin'
Fame and honor never seem to fade
The fire gone out but the light is never dyin'
Who says I can't get heavenly aid?

Ain't talkin', just walkin'
Carryin' a dead man's shield
Heart burnin', still yearnin'
Walkin' with a toothache in my heel

The sufferin' is unending
Every nook and cranny has its tears
I'm not playing, I'm not pretending
I'm not nursin' any superfluous fears

Ain't talkin', just walkin'
Walkin' ever since the other night.
Heart burnin', still yearnin'
Walkin' 'til I'm clean out of sight.

As I walked out in the mystic garden
On a hot summer day, a hot summer lawn
Excuse me, ma'am, I beg your pardon
There's no one here, the gardener is gone

Ain't talkin', just walkin'
Up the road, around the bend.
Heart burnin', still yearnin'
In the last outback at the world's end.

Uma idéia Fixa

E como naturalmente so que prezam um certa virtude têm o maior desprezo pelo efeito contrário, não havia gente que o "culto" odiasse tanto quanto as pessoas simples, de inteligência parca e espírito pouco complicado. Isso chegava ao ponto dele ter desejado mudar totalmente a organização da justiça, para que, ao se descobrir alguma ladroagem grave, enforcar-se não o ladrão, mas o roubado. Era uma idéia; era a sua idéia. Achava que essa era a única maneira de apressar a emancipação intelectual do povo, e fazer com que os homens do século alcançassem o progresso supremo no espírito, na habilidade e na invenção, qualidades que ele afirmava serem a verdadeira coroa da humanidade e a perfeição mais agradável a Deus.

Isso, quanto à moral. Quanto a política, estava convencido de que o roubo organizado em grande escala favorecia mais que tudo a divisão das grandes fortunas e a circulação das menores, do que só podem resultar, para as classes inferiores, o bem-estar e a libertação.

---
Trecho do texto de Gérard de Neval, entitulado "A mão encantada".

Esse trecho pode se juntar a outros textos épicos que tocam o campo do conhecimento e sua propagação. Onde vemos sempre a pessoa detentora de conhecimentos se afastar dos seres humanos que não possuem conhecimentos parecidos com o dele. Se isolando das relações sociais do cotidiano com a justificativa de não ser possível manter relações sociais com pessoas tão diferentes. Não isolando a si mesmo, mas também isolando o seu conhecimento e afastando a possibilidade de mudança social para um campo distante - não que o essa pessoa teria esse poder, mas seus conhecimentos podem servir de instrumentos. Meios que fariam as pessoas pensarem mais em saidas para suas situações do cotidiano!

22 agosto, 2008

The Sociological Imagination and the Promise of Sociology

No texto a seguir é de autoria de Wright Mills e desenvolve rapidamente a idéia sobre imaginação sociológica e o objeto de estudo da sociologia. Com o breve texto entitulado “The Sociological Imagination and the Promise of Sociology” o autor trabalha o que deve ser estudado como objeto sociológico e como isso deve ser feito, justificando os porques. Esse texto faz parte do livro “Human Societies” organizado por Anthony Giddens e publicado em 1992. Apesar de não ser tão atual, o texto traz claras questões que ainda não parecem ter sido vencidas por alguns pesquisadores sociais.


C. Wright Mills
The Sociological Imagination and the Promise of Sociology


The sociological imagination enables its possessor to understand the larger historical scene in terms of its meaning for the inner life and the external career of variety of individuals. It enables [the sociologist] to take into account how individuals, in the welter of daily experience, often become falsely conscious of their social positions. Within that welter, the framework of modern society is sought, and within that framework the psychologies of variety of men and women are formulated. By such means the personal uneasiness of transformed into involvement with public issues.

The first fruit of this imagination – and the first lesson of the social science that embodies it – is the idea that the individual can understand his own experience and gauge his own fate only by locating himself within his period, that he can know his own chances in life only by becoming aware of those of all individuals in his circumstances. In many ways it is a terrible lesson; in many ways a magnificent one. We do not know the limits of man´s capacities for supreme effort or willing degradation, for agony or glee, for pleasurable brutality or the sweetness of reason. But in out time we have come to know that the limits of “human nature” are frighteningly broad. We have come to know that every individual lives, from one generation to the next, in some society; that he lives out a biography, and that he lives it out within some historical sequence. By the fact of his living he contributes, however minutely, to the shaping of this society and to the course of its history, even as he is made by society and by its historical push and shove.

The sociological imagination enables us to grasp history and biography and the relations between the two within society. That is its task and its promise…

No social study that does not come back to the problems of biography , of history and of their intersections within a society has completed its intellectual journey. Whatever the specific problems of the classic social analysts, however limited or however broad the features of social reality they have examined, those who have been imaginatively aware of the promise of their work have consistently asked three sorts of questions:

1 What is the structure of this particular society as a whole? What are its essential components, and how are they related to one another? How does it differ from other varieties of social order? Within it, what is the meaning of any particular feature for its continuance and for its changes?

2 Where does this society stand in human history? What are the mechanics by which it is changing? What is its place within and its meaning for the development of humanity as a whole? How does any particular feature we are examining affect, and how is it affected by, the historical period in which it moves? And this period – what are its essential features? How does it differ from other periods? What are its characteristic ways of history-making?

3 What varieties of men and women now prevail in this society and in this period? And what varieties are coming to prevail? In what ways are they selected and formed, liberated and repressed, made sensitive and blunted? What kinds of “human nature” are revealed in the conduct and character we observe in this society in this period? And what is the meaning for “human nature” of each and every feature of the society we are examining?

Whether the point of interest is a great power state or minor literary mood, a family, a prison, a creed – these are the kinds of questions the best social analysts have asked. They are the intellectual pivots of classic studies of man in society – and they are the questions inevitably raised by any mind possessing the sociological imagination. For that imagination is the capacity to shift from one perspective to another – from the political to the psychological; from examination of a single family to comparative assessment of the national budgets of the world; from the theological school to the military establishment; from considerations of an oil industry to studies of contemporary poetry. It is the capacity to range from the most impersonal and remote transformations to the most intimate features of the human self – and to see the relations between the two. Back of its use there is always the urge to know the social and historical meaning of the individual in the society and in the period in which he has his quality and his being …

Perhaps the most fruitful distinction with which the sociological imagination works is between “the personal troubles of milieu” and “the public issues of social structure”. This distinction is an essential tool of the sociological imagination and a feature of all classic work in social science…

In these terms, consider unemployment. When, in a city of 100,000, only one man is unemployed, that is his personal trouble, and for its relief we properly look to the character of the man, his skills and his immediate opportunities. But when, in a nation of 50 million employees, 15 million men are unemployed, that is a issue, and we may not hope to find its solution within the range of opportunities open to any one individual. The very structure of opportunities has collapsed. Both the correct statement of the problem and the range of possible solutions require us to consider the economic and political institutions of the society, and not merely the personal situation and character of a scatter of individuals.

Consider war. The personal problem of war, when it occurs, may be how to survive it or how to die in it with honour; how to make money out of it; how to climb into the higher safety of the military apparatus; or how to contribute to the war´s termination. In short, according to one´s values, to find a set of milieux and within it to survive the war or make one´s death in it meaningful. But the structural issues of war have to do with its causes; with what types of men it throws up into command; with its effects upon economic and political, family and religious institutions, with the unorganized irresponsibility of a world of nation states.

Consider marriage. Inside a marriage a man and a woman may experience personal troubles, but when the divorce rate during the first four years of marriage is 250 out of every 1,000 attempts, this is an indication of a structural issue having to do with the institutions of marriage and the family and other institutions that bear upon them.

Or consider the metropolis – the horrible, beautiful, ugly, magnificent sprawl of the great city. For many upper-class people, the personal solution to “the problem of the city” is to have an apartment with private garage under it in the heart of the city, and forty miles out, a house by Henry Hill, garden by Garret Ecko, on a hundred acres of private land. In these two controlled environments – with a small staff at each end and a private helicopter connection – most people could solve many of the problems of personal milieux caused by the facts of the city. But all this, however splendid, does not solve the public issues that the structural fact of the city poses. What should be done with this wonderful monstrosity? Break it all into scattered units, combining residence and work? Refurbish it as it stands? Or, after evacuation, dynamite it and build new cities according to new plans in new places? What should those plans be? And who is to decide and to accomplish whatever choice is made? These are structure issues; to confront them and to solve them requires us to consider political and economic issues that affect innumerable milieux.

Is so far as an economy is so arranged that slumps occur, the problem of unemployment becomes incapable of personal solutions. In so far as war is inherent in the nation-state system and in the uneven industrialization of the world, the ordinary individual in his restricted milieu will be powerless – with or without psychiatric aid – to solve the troubles this system or lack of system imposes upon him. In so far as the family as an institution turns women into darling little slaves and men into their chief provides and unweaned dependants, the problem of a satisfactory marriage remains incapable of purely private solution. In so far as the overdeveloped megalopolis and the overdeveloped automobile are built-in features of the overdeveloped society, the issues of urban living will not be solved by personal ingenuity and private wealth.

What we experience in various and specific milieux, I have noted, is often caused by structural changes. Accordingly, to understand the changes of many personal milieux we are required to look beyond them. And the number and variety of such structural changes increase as the institutions within which we live become more embracing and more intricately connected with one another. To be aware of the idea of social structure and to use it with sensibility is to be capable of tracing such linkages among a great variety of milieux. To be able to do that is to possess the sociological imagination.

Cem anos de solidão

Após me deleitar com o livro do fabuloso escritor colombiano, muitas de suas palavras ficaram na minha cabeça. Como a latejar em extremos acessos de enxaqueca.
São palavras, frases, máximas, que dizem respeito sobre a vida e nosso modo de viver o cotidiano.
Para Gabriel Garcia Marquez em “Cem anos de solidão”, o tempo deixa de ser linear. Ou seja, deixa de ser da forma que o vivemos. Onde momentos ficam no passado. Pelo contrário, a vida em Macondo - cidade em que se passa o romance - o tempo é circular. Isto é, vai e volta. Os acontecimentos do presente não são mais que manifestações cíclicas, que já tiveram seu momento no passado e terão alguma influencia no futuro próximo. Seja ele de uma década, seja ele de cem anos.

Garcia Marquez elege uma família em Macondo - os Buendia. E através dessa família o autor ilustra a trajetória da cidade, que está intimamente ligada a própria trajetória dos Buendia. Com personagens de características semelhantes o autor utiliza-se dos nomes e dos acontecimentos para demonstrar a forma ciclica que a vida toma. São nomes como Aurelianos, José Arcadios, Remédios, Úrsulas, entre outros, que vão e vem se repetindo através de gerações, passando e se transformando em acontecimentos notórios que vão se repetindo, ou apenas se completando, idealizando a perspectiva ciclica da vida que passa o autor. Morte e vida se revezam em um misto aprendizagem e troca de conhecimentos.

Além de toda a soma de conhecimentos depositados pelo autor em "Cem anos de solidão", o leitor também poderá agregar conhecimento se possuir ferramentas para isso. Algo que deixa a leitura muito mais interessante!
No caso específico, algo de grande contribuição para a leitura, já que o foco do autor é na idéia de uma da vida cíclica e não linear, é voltar a atenção para a analise da contagem do tempo.
Na perspectiva adotada hoje, a vida se mostra linear ao nossos olhos. Nascemos e morremos. Tudo passa e nada se repete. Entretanto, outras civilizações adotavam outra forma de calcular o tempo, uma maneira cíclica, baseada na transformação da natureza e nos ciclos naturais. Com esse ponto de vista ganhamos mais que perdemos. Não mais participamos de momentos que não voltarão mais. Pelo contrário, participamos de um ciclo, com constantes indas e vindas.

Entre as civilizações que utilizavam esse forma de contagem do tempo está a civilização Maia. Uma das maiores aglomerações populacionais antes da chegada dos europeus na América. A civilização Maia vivia no Sul do México e foi totalmente exterminada pelo espanhol Raúl Cortez e seus discípulos quando esses encontraram os Maias. Apesar do extermínio, algo muito interessante ficou do legado Maia, são suas noções de astronomia e a forma que calculavam seus ciclos. Existe um vídeo muito bom na internet e seria interessante dos nós assistirmos, não apenas quem leu Gabriel Garcia Marquez, mas a todos que pensam em outras formas conhecimentos, pela intensidade e pelas possibilidades que abrem a perspectiva de pensamento Maia. Vou postar apenas primeira parte do vídeo aqui (são 6) e quem se interessar procure mais no youtube.com. Vale lembrar que esse vídeo foi feito pelo canal History Channel, o que significa um pouco de expetacularização, de qualquer forma, acho que vale a pena dar uma olhada.





Para finalizar, vão aí algumas frase de Gabriel Garcia Marquez em "Cem anos de solidão", que expressam outra luta do autor no romance - tirar as teias de aranha dos livros e do saber criado.
Para o autor, era uma perda tempo produzir para ninguém. A produção, seja ela qual for, deve ser distribuida, utilizada e aprendida. Aí vão algumas passagens encontradas nos "Cem anos de Solidão":

"A sabedoria não valia a pena se não fosse possível se servir dela para inventar uma nova maneira de preparar o feijão"

"O mundo terá acabado de se foder - disse então, no dia em que os homens viajarem de primeira classe e a literatura no vagão de carga"

"O que mais me aborrece - ria - é o tempo que perdemos"

"Merda, costumava rir, Quem havia de pensar que nós iríamos realmente acabar vivendo como antropófagos!"

É isso aí gente.
Tenham ótimos mosmentos com
“Cem anos de solidão – Gabriel Garcia Marquez”

13 agosto, 2008

Dois lados da moeda

Com enormes possibilidades de atuação, a fala tem tanto o poder de concertar, quanto o de estragar as relações socias. Esse poder de atuação da fala vai se tornando notório com o passar de nossos anos. Da mesma forma que aprendemos que, com o passar dos anos, existem formas de ofender, aprendemos também que existem forma de agradar. Não por que essas formas de se expressar sejam naturalmente boas ou más, mas porque o padrão de comportamento social nos força a acreditar que, quando falamos obrigado à alguém, isso significa agradecimento por um ato, algo que foi "forçado" por alguém (também podemos dizer que foi forçado pela sociedade) e que não, necessariamente, tinha a obrigação de acontecer. De qualquer forma, a maneira que nos expressamos tem conecção direta com a forma dos atos que vem à nós.

Falo "obrigado" e escuto "de nada".
Falo "desculpa" e escuto "não foi nada".
Mando "ir para o inferno" e sou mandado "também para o inferno".

A maioria das coisas que falamos cotidianamente é amplamente compreendida pelo resto das pessoas que interagimos. Quanto mais conecção as pessoas tem, mais entendimento existe entre elas. Assim, menos explicações são necessárias e menos palavras são usadas. Com o tempo, a fala pode acabar sendo substituida pela linguagem corporal, que não deixa de ser um tipo de fala, mas sem a voz e sim, com o corpo.
Mas antes de atingir tamanho estatus de interação, os seres humanos precisam se entender verbalmente, usando a voz e o corpo.

O interessante de tudo isso é que o comportamento (fala e atuação corporal), apesar de ser conhecido, nunca é compreendido em sua totalidade. Porque por mais que entendamos o significado de um determinado comportamento, aliado ao significado das palavras, nunca sabemos o que se passa dentro da cabeça da outra pessoa. Isso quer dizer que, algumas vezes, mesmo conhecendo a fundo um outro alguém, as reações dessa pessoa podem nos surpreender de mil formas.

Apesar das surpresas e da falta de entendimento para certas coisas, sempre temos que agir com serenidade e cautela. Sendo "extravagante" ou "normal", os comportamentos dos outros não podem surpreender nossas atitudes, tem que apenas somar.
Como diz Mario Quintana: "O que eles chamam de nossos defeitos é o que nós temos de diferentes deles". E essa diferença, quando posta lado-a-lado vem como incongruencia, disemelhança e aprendizado. É observando o comportamento dos outros que analisamos os nossos comportamentos. É por isso que os pesquisadores sociais enfatisam o distanciamento do objeto de estudo como um dos fatores de elucidação sobre o próprio objeto. É observando o comportamento de fora de sua perspectiva que conseguimos entender o significado que ele tem socialmente, ou pessoalmente (cada um pode ter uma analise diferente sobre o mesmo objeto). Em outras palavras, quando confrontamos nossos comportamentos com opiniões e atitudes de outros é que observamos as lacunas que deixamos quando planejamos algo na nossa cabeça e ela não funciona da mesma forma que desejamos na prática.

Por outro lado, talvez esse tipo de analise não seja interessante. E só reflita a postura utópica que algumas pessoas assumem quando desejam de alguma forma um melhor entendimento entre os seres vivos no mundo. Seja animal ou vegetal, sofremos influencia mutua e da mesma forma que ameaçamos algo, também somos ameaçados.

"...o indivíduo é um efeito do poder e simultaneamente, ou pelo próprio fato de ser efeito, é seu centro de transmissão. O poder passa através do indivíduo que ele constituiu." Michel Foucault

"Nossos atos prendem-se a nós como a luz ao fósforo: Fazem o nosso esplendor, é verdade, mas tão somente à custa e nosso desgaste." André Gide

06 agosto, 2008



"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda"

Paulo Freire

Proposta de reforma da lingua portuguesa

Esta é uma PROPOSTA de reforma ortográfica da Língua Portuguesa, visando principalmente a abolição de múltiplas grafias para um mesmo fonema.


São constantes as reclamações por parte de estudantes e da população em geral sobre as dificuldades ortográficas e gramaticais do português. Ao longo de nossa história, passamos por várias reformas visando amenizar estes problemas, mas parece que está na hora de outra reforma.

A última reforma ortográfica entrou em vigor em 1971, eliminando vários acentos circunflexos de palavras como empresa, este, porto, etc. Também tivemos reformas em 1945 e no início da era republicana. Em 1990, assinou-se o acordo de "unificação" da Língua Portuguesa, agendado para entrar em vigor no Brasil em 2011. Este acordo tem a pretensão ridícula de transformar o português numa língua de relações internacionais, apenas com a retirada de alguns acentos, inclusão do K, W e Y, mudança de regras de hífen, entre outras alterações minúsculas, que, praticamente, nada trarão de benéfico.

Este artigo mostra os detalhes de uma proposta de reforma radical, desenvolvida para acabar com os problemas da língua portuguesa e seguir o exemplo dos espanhóis. Esta proposta altera principalmente o tocante a ortografia, em vez da gramática.

É proposta a abolição dos dígrafos XC, SC, CH e SS, além do cedilha e do trema, entre inúmeras outras mudanças.

MUDANÇAS DE ORTOGRAFIA

Os dígrafos XC e SC, o encontro consonantal SS, o Ç, o X com som de S, e o C com som de S seriam todos substituídos pela letra S:

exceção -> esesão
grosso -> groso
inspeção -> inspesão
parecer -> pareser
texto -> testo
fascismo -> fasismo

O dígrafo GU seria substituído por G:

guerra -> gerra
guitarra -> gitarra
preguiça -> pregisa

Nos casos onde o encontro GU é pronunciado, permanece o GU, mas abole-se o trema, se houver:

lingüiça -> linguisa
água -> água

Nos casos onde o encontro QU é pronunciado, permanece o QU, mas abole-se o trema, se houver:

eqüino -> equino
qüinqüagésimo -> quinquajézimo

O G com som de J seria substituído por J:

gemer -> jemer
girar -> jirar
agiota -> ajiota

O X com som de CS seria substituído por CS:

crucifixo -> crusificso
perplexo -> perplecso

O S com som de Z e o X com som de Z seriam substituídos por Z:

Brasil -> Brazil
pausa -> pauza
princesa -> prinseza
exímio -> ezímio
exatamente -> ezatamente
prisão -> prizão

O dígrafo CH seria substituído por X:

chato -> xato
cachorro -> caxorro
cachaça -> caxasa

A letra H inicial seria abolida de todas as palavras:

haste -> aste
homem -> omem
hélice -> élise
hora -> ora
homossexual -> omosecsual

MUDANÇAS DE ACENTUAÇÃO

O acento agudo nas palavras monossílabas seria abolido:

já -> ja
pá -> pa
pés -> pes
dó -> do

Para palavras como assembléia e vêem, adotariam-se as regras definidas no acordo de 1990 (aquele que entra em vigor em 2011):

assembléia -> assembleia
européia -> europeia
vêem -> veem
têem -> teem

MUDANÇA NO ALFABETO

O alfabeto passaria a incluir as letras K, W e Y, tendo 26 letras ao todo.


É óbvio que tantas mudanças na ortografia podem soar estranhas à primeira vista mas, com tempo e paciência, tudo se resolveria.

Argumentos a favor desta reforma:

- Maior simplificação da escrita e aproximação da fonética.
- Maior facilidade de aprendizado por parte de crianças e estrangeiros.
- A língua continuará sendo compatível com o padrão de codificação ISO-8859-1.
- Modernização da escrita.

Argumentos contra esta reforma, com suas refutações:

- Será muito difícil a adaptação por parte da população.
REFUTAÇÃO: Eventuais dificuldades de adaptação serão muito menores do que os benefícios que a reforma trará a longo prazo.

- O custo da atualização de dicionários e livros escolares é proibitivo.
REFUTAÇÃO: Custos com atualizações ocorrem com toda e qualquer reforma ortográfica, por menor que seja. Vale mais a pena uma reforma radical que traga benefícios reais, do que reformas ridículas que mudam um acento ali e outro acento lá, como aquela que entrará em vigor em 2011.

- A reforma criará um dialeto "brasileiro" da Língua Portuguesa, dificultando mais ainda sua projeção internacional e fazendo o português se assemelhar com línguas como o croata e o bósnio.
REFUTAÇÃO: A ortografia de uma língua é um fator irrelevante em sua projeção internacional. O inglês possui uma ortografia completamente confusa e dois dialetos muito distintos (americano e britânico) mas, mesmo assim, é a atual língua internacional diplomática, comercial e científica. Projeção internacional não se consegue com reformas ortográficas.

- A reforma criará uma grande quantidade de palavras homógrafas (mesma grafia com significado distinto).
REFUTAÇÃO: Isso não é muito relevante. Na maioria dos casos, pode-se facilmente diferenciá-las pelo contexto.

- A reforma é indiferente à etimologia de muitas palavras.
REFUTAÇÃO: Não há qualquer necessidade de se continuar escrevendo as palavras como eram escritas pelos gregos ou latinos há milhares de anos atrás. Isso é um atraso.


Mais informações sobre a reforma ortográfica ver sítios:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u321373.shtml - Sítio da Folha de S. Paulo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ortografia_da_l%C3%ADngua_portuguesa - Wikipédia - história da lingua portuguesa
http://www.ipetitions.com/petition/manifestolinguaportuguesa/ - Manifesto contrário a reforma da lingua portuguesa
http://emdefesadalinguaportuguesa.blogspot.com/ - Blog contrário a reforma de lingua portuguesa
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/fd1ead77c203a4dc3dfd94.html - Sitio portugues que se refere a reforma da lingua
http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL472396-5604,00.html - Explicação multimídia sobre a mudança da lingua portuguesa
http://educacao-ja.org.br/content/view/97/1/ - Artigo do sítio Educação.org
http://www.frihost.com/forums/vt-81173.html - Forum de discussão sobre as mudanças na lingua portuguesa
http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=5666 - Considerações contrárias a mudança da lingua portuguesa
http://www.ydoo.com.br/vilela/content/view/85/47/ - Prof. Plínio Vilela explica as mudanças práticas na lingua portuguesa