22 junho, 2008



"O medo do perigo é mil vezes pior do que o perigo real"
Daniel Defoe

07 junho, 2008

A linguagem e seu campo

Por detrás do simbolismos das palavras estão as verdadeiras razões delas serem expressas. O grande problema que encontramos na comunicação é justamente o entendimento sobre as verdadeiras razões das palavras. Isso porque quando tratamos sobre as razões de nossas palavras, não estamos tratando de algo comum a todas as pessoas, por mais que as palavras sejam comuns, estamos falando de alguma coisa que se criou no campo particular, que diz respeito apenas a idéia própria do indivíduo que a pronunciou. As razões das palavras se constróem no amago de nossa mente, nos fins e nos confins de nossos pensamentos. E que além de conter o significado geral da palavra, somam também a nossa história, o que aprendemos com ela, e o nosso momento, todas as forças que nos influenciam no agora.
O que faz a expressão na comunicação não ser algo direto, sensato e claro, é justamente a particularidade que envolve todos os intantes da comunicação. Eu digo amor e essa palavra me recorda momentos que significam amor. Porém esses momentos não são os memos para todas as pessoas, dando ao amor um significado amplo e geral, indefinivel. As palavras se tornam algo nebuloso, espectral e único. Nebuloso por não ter uma identidade clara, não possuindo definição precisa. Espectral porque se faz ser vista e inteligivel, porém não o é da mesma forma que o idealizador a criou. E única porque o criador, apenas o criador, tem o domínio claro do que quis dizer.
Corrigir essas imperfeições é preciso e possível para vivermos em harmonia social. Não podemos nos contentar com nossas definições, nossas maneiras e nossos mundos. Isso porque não é apenas o nosso mundo que existe. Somos fruto de infinidade de confluencias. Não podemos simplesmente abandonar esse fato e dar como importante apenas o nosso tipo de pensamento. Somos muitos.

Rever, assumir, rever, assumir, rever, assumir.
Culpa de alguma coisa
Vontade em pensamento
Explosão de sentimento

Clarividência nas ações
Propriedade no julgamento
Como juiz ou acusado
Vamos vivendo assoitados

São memórias, são lembranças
Que carregamos como herança
Como um cargueiro sem porto
Até o dia do naufrágio

Convencendo, convencendo
O que já convencido
Endurecendo, endurecendo
O que já duro está

06 junho, 2008



"Aquele que deseja fazer o bem ao próximo, deve fazê-lo a partir das pequenas coisas. O bem geral é a desculpa dos hipócritas, salafrários e aduladores". William Blake

05 junho, 2008

Pouco adiantou acender cigarros... falar palavrão...peder a razão, eu quis ser eu mesma, eu quis ser alguem, mas sou como os outros... que apenas fazem parte de um todo...acho que sou eu mesma quando falo tudo o que penso realmente, quando sou sincera comigo e mostro a todo mundo que eu não sei quem sou...e que ainda busco dentro de mim em conjunto com as pessoas que convivo essa resposta...e continuo usando as palavras de quem nada sabe. As coisas que aprendi nenhum troféu como lembrança pra casa eu levei, mas as coisas que tive oportunidade e ainda não aprendi essas nunca esqueci porque acumulam-se na minha infinita vontade do "conhecer, perceber e absorver".

texto original:
Perdendo Dentes - Pato Fu

03 junho, 2008


...do livro A EDUCAÇÃO E O SIGNIFICADO DA VIDA por Krishnamurti...

"Para instituirmos a educação correta, é indispensável compreender o significado da vida como um todo, e, para tal, devemos ser capazes de pensar, não rigidamente, mas de maneira direta e verdadeira. Um pensador inflexivel não tem pensar próprio, porque se ajusta a um padrão; repete frases e pensa dentro de uma rotina. Não se pode compreender a existência da forma abstrata ou teórica. Compreender a vida é compreender a nós mesmos; este é o fim da educação.
A função da educação é criar entes humanos integrados, e, por conseguinte, inteligentes. ...A inteligência não é mera cultura intelectual; não provêm dos livros, nem consiste em jeitosas reações defensivas e asserções arrogantes. O homem que não estudou pode ser mais inteligente do que o erudito. Fizemos de exames e diplomas critério de inteligência e desenvolvemos espíritos muito sagazes, que evitam os problemas humanos vitais. Inteligência é a capacidade de perceber o essencial, o que é; despertar essa capacidade, em si próprio e nos outros, eis em que se resume a educação.
A educação deve ajudar-nos a descobrir valores perenes..."

e finaliza o pensamento com o seguinte paragrafo:

" Os sistemas, quer educativos, quer políticos, não se transformam miraculosamente; só se modificam quando há em nós uma transformação fundamental. O indivíduo é de primordial importância, e não o sistema; e enquanto o indivíduo não compreender o processo total de si mesmo, nenhum sistema, seja da direita, seja da esquerda, trará ordem e paz ao mundo."

02 junho, 2008

Hemingway e as inspirações do cotidiano



Hemingway não é um autor admirado por um fato qualquer.
Sua habilidade na escrita é realmente invejável, ninguém consegue como Hermingway escrever tanto com tão poucas palavras e folhas. O autor segue uma linha simples, porém profunda quando trata das relações humanas. A complexidade com que atingue os posicionamentos pessoais e suas influências sobre o ambiente social demonstram que Hemingway deveria ser um autor mais presente no dia-a-dia de cada um de nós.
Aqui vou transcrever dois contos de Hemingway, presentes na coletânia Contos - volume 3. São dois contos simples, o primeiro tratando da vida em família e a relação de um pai com o seu filho, o segundo conto, um pouco mais fantasioso, trata da história de um leão poliglota e sua percepção sobre o mundo dos leões.


Cada Isso nos lembra um aquilo - Ernest Hemingway

É uma história muito boa - disse o pai do menino. - Percebe quanto é boa?
-Eu não queria que ela a mandasse para o senhor, pai.
-O que mais você escreveu?
-Só esta. Não queria mesmo que ela a mandasse para o senhor. Mas quando ganhei o prêmio...
-Ela quer que eu ajude você. Mas se você é capaz de escrever tão bem assim, não precisa de ajuda de ninguém. Só precisa escrever. Quanto tempo você levou para escrever este conto?
-Não muito.
-Onde aprendeu sobre essa espécie de gaviota?
-Nas Bahamas, acho.
-Você nunca esteve em Dog Rocks nem em Elbow Key. Não há gaviotas nem andorinhas-do-mar nidificando em Cat Key nem em Bimini. Em Key West so se vêem andorinhas das pequenas.
-Em Killem Peters, claro. Fazem ninhos nos rochedos de coral.
-Nos baixios - disse o pai - Onde será que você viu gaviotas como as do conto?
-Talvez o senhor tenha me falado delas.
-É um belíssimo conto. Lembra-me um que li há muito tempo.
-Parece que tudo nos faz lembrar de alguma outra coisa.

Naquela verão o menino leu livros que o pai pegou para ele na biblioteca, e quando ele ia à casa-grane para almoçar se não estivesse jogando beisebol ou praticando tiro no clube, sempre dizia que estivera escrevendo.
-Mostre-me quando quiser ou me consulte sobre alguma dificuldade - disse o pai - Escreva sobre assuntos que você conheça.
-É o que faço.
-Não quero ficar olhando por trás de você nem respirando na sua nuca. Mas se quiser posso lhe passar alguns problemas sobre assuntos que nós dois conhecemos. Será um bom exercício.
-Acho que estou no caminho certo.
-então não me mostre nada, a menos que queira. Gostou de "Muito Longe e Há Muito Tempo"?
-Gostei muito.
-Os problemas a que me referi são estes: podemos ir juntos ao mercado ou à briga de galos e cada um de nós descreve o que viu. Os flagrantes e cenas que nos marcaram. Como o treinador abrindo o bico do galo e soprando na garganta dele quando o juiz concede uma pausa para eles se recuperarem. Coisas pequenas. Para comparar o que cada um de nós achou interessante.
O menino concordou e baixou os olhos.
-Ou então vamos ao café e jogamos umas mãos de pôquer de dados e você toma nota das conversas que ouviu. Não queira descrever tudo. Só o que achar que tem sentido.
-Acho que ainda não estou preparado para isso, pai. Acho melhor continuar fazendo como fiz no conto.
-Então faça assim. Não quero interferir no seu trabalho nem influenciar você. Eu estava falando era de exercícios. E os que citei não são lá muito bons. Podemos pensar em outros.
-Talvez seja melhor para mim continuar como fiz no conto.
-Claro - disse o pai.

Eu não escrevia bem assim quando tinha a idade dele, pensou o pai. Também não conhecia ninguém que escrevesse. E não conheci ninguém que pudesse atirar como ele quando tinha dez anos; não apenas atirar à toa, mas em competição com adultos e com profissionais. Já era bom atirador de campo aos doze anos. Atirava como se tivesse uma radar embutido. Nunca atirava sem conhecer o alcance da arma, nem deixava que uma ave chegasse muito perto; atirava com estilo e com precisão absoluta no momento certo em faisões em vôo e em patos em movimento.
Em competições de tiro ao pombo vivo, quando ele caminhava pela pista de cimento, rodava a roda e marchava para a placa de metal na faixa preta da metragem, os profissionais ficavam olhando calados. Ele era o único atirador que inspirava silêncio absoluto na assistência. Alguns profissionais sorriam quando ele levantava a arma ao peito e olhava para ver se a soleita da coronha estava bem encaixada. Depois olhava ao longo do cano, a mão esquerda avançada, o peso do corpo caindo no pé esquerdo. A ponta do cano elevava-se e se abaixava, deslocava-se para a esquerda, para a direita e fixava-se no centro. O calcanhar do pé direito erguia-se um pouco quando ele inclinava a cabeça sobre os dois canos da arma.

-Pronto - dizia numa voz baixa e rouca que não parecia voz de criança.
-Pronto - respondia o encarregado das gaiolas.
-Solte - dizia a voz rouca, e a despeito de qual das cinco gaivotas saísse o pombo, e não importa de que ângulo as asas dele batessem, a carga do primeiro cano o acertava. Quando a ave despencava em vôo, a cabeça para baixo, só os grandes atiradores viam o choque da segunda carga entrando no corpo da ave já morta no ar.
O menino travava a arma e voltava pelo cimento para o pavilhão, nenhuma expressão no rosto, os olhos baixos, não dando importância aos aplausos e dizeno "obrigado" na estranha voz rouca se algum profissional dissesse "belo tiro, Stevie".
Punha a arma no cabide e esperava para ver o pai atirar. Depois os dois seguiam juntos para o bar ao ar livre.
-Posso beber uma Coca, pai?
-É melhor beber só metade.
-Sim, senhor. Acho que fui muito lento. Não devia ter deixado a ave subir tanto.
-Era uma ave forte e veloz, Stevie.
-Ninguém teria percebido a falha se eu tivesse sido lento.
-Você se saiu muito bem.
-Vou recuperar a velocidade. Não se preocupe, pai. Este pouquinho de Coca não vai me prejudicar.
O pombo seguinte morreu quando a mola da gaiola jogou-o para cima. Todos viram a carga do segundo cano acertá-lo no ar. Não tinha subido mais de uma metro da gaiola.
Quando o menino entrou, um atirador local disse:
-Você pegou um muito fácil, Stevie. - O menino confirmou e ergueu a arma. Olhou o quadro de marcação. Quatro outros iam atirar antes do pai dele. O menino foi procurar o pai.
-Você recuperou a velocidade - disse o pai.
-Ouvi o barulho da gaiola se abrindo - disse o menino. - Não quero prejudicá-lo, pai. Posso distinguir o barulho de cada uma. Mas o número dois é o dobro do das outras. Precisam engraxá-la. Ninguém percebeu isso.
-Sempre me viro com o barulho da gaiola.
-Mas se for muito alto é à esquerda. Barulho alto é da esquerda.
O pombo sorteado para o pai não foi da gaiola número dois nos três tiros seguintes. Quando lhe coube o número dois ele não ouviu barulho de mola e matou o pombo com o segundo cano com retardo, e o pombo bateu na cerca antes de cair.
-Ah, pai, desculpe - disse o menino. - engraxaram a mola. Eu deviaa ficar calado.
Na noite seguinte ao último grande torneio internacional do qual participaram atirando juntos, eles conversaram, e o menino disse:
-Não entendo com alguém pode errar um pombo.
-Jamais diga isso a ninguém - aconselhou o pai.
-Claro. Mas não entendo mesmo. Não há por que errar um pombo. Aquele em que perdi pontos acertei duas vezes, só que ele caiu morto fora da cerca.
-Foi por isso que você perdeu.
-Isso eu sei. Sei porque perdi. Mas não entendo como pode um atirador errar um pombo.
-Talvez entenda daqui a vinte anos - disse o pai.
-Tudo certo. Mas não deve dizer isso a outras pessoas.

O pai refletia nisso quando refletia sobre o conto escrito pelo menino. Apesar do incrível talento que possuía, o menino não teria sido o atirador que era contra as aves em vôo se não tivesse recebido sugestões e orientações. Ele esquecera todas as instruções recebidas. Esquecera que, quando começou a erras tiros em vôo, o pai tirava dele e mostrava as esquimoses no braço por ter encaixado mal a arma. O pai o corrigia nisso ensinando-o a sempre examinar o ombro para se certificar de que havia encaixado bem a arma antes de mandar soltar o pombo.
Esquecera o princípio de pôr o peso no pé da frente, manter a cabeça baixa e virar. Como saber que o peso esté no pé da frente? Erguendo o calcanhar direito. Cabeça baixa, torção e velocidade. Não se preocupe com o escore. Você deve atirar logo que o pombo sair da gaiola. Não olhe para o pombo inteiro, só para o bico. Acompanhe o bico com a arma. Se não enxergar o bico, calcule onde ele pode estar. Quero que você só se preocupe com a velocidade.
O menino era um excelente atirador nato, mas o pai ensinou-o a ser perfeito, e todo ano o levava para atirar. Com isso o menino aprendeu a ter a concentração na velocidade e passou a matar de seis a oito em dez. Depois passou a nove em dez. Mantenha essa prorpoção, visando ao escore de vinte em vinte. O resto depende da sorte que faz atiradores perfeitos.
Ele não mostrou ao pai o segundo conto. No fim de cada férias a versão final ainda não satisfazia. Disse que só o mostraria se o considerasse pronto. Quando achasse que estava pronto ele o mandaria para o pai. Dizia ter aproveitado bem as férias, estava lendo bons livros, e agradecia ao pai por não exigir muito dele no campo da escrita, porque afinal férias são férias, e aquelas tinham sido das melhores, talvez as melhores, e o tempo que passaram juntos fora maravilhoso.

Sete anos depois o pai encontrou novamente o conto premiado. Estava em um livro que encontrou quando procurava outros no antigo quarto do menino. Logo que o viu, percebeu a origem do conto. Recordou o antigo clima de familiaridade. Foi virando as páinas e reconheceu, inalterado e com o mesmo título, num livro de contos muito bons de um escritor irlandês. O menino o copiara palavra por palavra e utilizara o título original.
Nos últimos cinco do período de sete anos, entre o verão do prêmio e o dia em que o pai encontrou o livro, o menino praticou os atos mais detestáveis e insensatos de que foi capaz, pensou o pai. Mas isso porque ele era doente, justificou o pai. A doença foi a causa da vileza. Até então ele estivera no caminho certo. O desvio começara um ano ou mais após aquele último verão.
Agora ele sabia que o menino nunca fora bom. Chegava sempre a essa conclusão quando rememorava os acontecimentos. E reconheceu com triteza que atirar não significara nada.


O leão bondoso - Ernest Hemingway

Era uma vez um leão que vivia na África com todos os outros leões. Os outro leões eram todos maus leões e todo o dia comiam zebras e animais selvagem e toda a sorte de antílopes. Às vezes os maus leões comiam gente também. Comiam uailis, ungurus e wandorobos e gostavam principalmente de comer mercadores hindus. Todo mercador hindu é muito gordo e delicioso para o leão.
Mas esse leão, de quem gostamos porque era tão bom, tinha asas nas costas. Por ele ter asas nas costas os outros leões todos caçoavam dele.
-Olhem esse aí com as asas nas costas - diziam, e todos rolavam de rir.
-Vejam o que ele come - diziam, porque o bom leão só comia massas e scampi por ser ele tão bom.
Os maus leões rugiam de gargalhadas e comiam outro mercador hindu, e as mulheres dos maus leões bebiam o sangue do mercador hindu, fazendo lap, lap, lap com as línguas, como gatos enormes. Só paravam de rugir, rindo, do bom leão para zombar das asas dele. Eram leões maus e perversos.
Mas o bom leão sentava-se e fechava as asas e perguntava educadamente se podia tomar um Negroni ou um Americano, que sempre bebia em vez de beber sangue de mercadores hindus. um dia ele se recusou a comer oito reses masai e só comeu tagliatelli e bebeu um copo de pomodoro.

Isso deixou os maus leões indignados, e uma leoa que era a mais perversa de todos e nunca conseguia limpar o sangue de mercadores hindus de seus bigodes, nem esfregando a cara no campim, disse: -Quem é você para pensar que é melhor do que nós? De onde você veio, seu leão comedor de massas? E o que está fazendo aqui?- Roncou para ele e todos os outros rugiram sem rir.
-Meu pai mora numa cidade, onde fica debaixo da torre do relógio olhando mil pombos, todos súditos dele. Quando esses pombos voam, fazem um barulho como o de um rio caudaloso. Na cidade de meu pai existem mais palácios do que em toda a África, e quatro grandes cavalos de bronze olhando para ele, e cada um tem um pé erguido porque todos tem medo do meu pai.
-Seu pai era um grifo - disse a leoa perversa lambendo os bigodes.
-Você é mentiroso - disse um dos maus leões - Não existe cidade assim.
-Passe o meu pedaço de mercador hindu - disse outro leão muito mau. - Essa vaca massai está muito fresca.
-Você é um reles mentiroso e filho de grifo - a mais perversa de todas as leoas disse. - Estou com vontade de matar você e comer, com asas e tudo.
Isso assustou demais o bom leão, porque ele viu os olhos amarelos dela e o rabo levantando e descendo e o sangue seco endurecido nos pêlos do bigode e sentiu o hálito dela que era muito fedido porque ela nunca escovava os dentes. E também porque ela tinha pedaços antigos de mercador hindu entre as garras.
-Não me mate - disse o bom leão. - Meu pai é um leão nobre e sempre foi respeitado, e tudo o que eu disse é verdade.
A leoa perversa saltou para pegá-lo. Mas ele subiu para o ar com suas asas e circulou uma vez sobre o grupo de maus leões, que ficaram rugindo e olhando para ele no alto. Ele olhou para baixo e pensou: como são selvagens esses leões.
Circulou mais uma vez sobre eles para fazê-los rugir mais alto. Despois desceu para ver os olhos da leoa perversa, que se ergue sobre as pernas traseiras para ver se o pegava. Mas errou a patada.
-Adios - disse o bol leão, que falava um excelente espanhol por ser um leão culto. - Au Revoir! - gritou para eles em um francês exemplar.
Todos rugiram e roncaram em dialeto leonino africano.
O bom leão subiu em círculos e cada vez mais altos e regulou a rota para Veneza. Pousou em Piazza e todo mundo ficou feliz de vê-lo. Ele deu um vôo curto e beijou o pai nas duas faces e viu que os cavalos ainda estavam com os pés erguidos, e a Basílica estava mais bonita do que uma bolha se sabão. O Campanile no seu lugar e os pombos se recolhendo a seus ninhos para passarem a noite.
-Que tal a África? - perguntou o pai.
-Muito selvagem, pai - respondeu o bom leão.
-Agora temos iluminação noturna - disse o pai.
-Estou vendo -respondeu o bondoso leão como bom filho.
-Incomoda meus olhos um pouco - disse o pai. - Para onde vai agora, filho?
-Para o bar do Harry.
-Dê lembranças minhas a Cipriani e diga a ele que passo lá qualquer dia para saldar minha conta - disse o pai.
-Sim, senhor - disse o bom leão, e voou baixo e depois foi andando com as quatro patas para o bar do Harry.
Nada havia mudado em Cipriani. Todos os seus amigos estavam lá. Mas o bom leão tinha mudado um pouco por ter estado na Áfica.
-Um Negroni, Signor Barone? - perguntou Cipriani.
Mas o bom leão tinha vindo da África, e a Áfica o modificara.
-Tem aí sanduíches de mercador hindu? - perguntou ele a Cipriani.
-Não, mas posso dar um jeito.
-Enquanto providencia, me prepare um martíni bem seco. Com gim Gordon - acrescentou.
-Muito bem - disse Cipriani. - Muito bem mesmo.
O leão correu os olhos pelos rostos de todas as pessoas finas e certificou-se de que estava em casa mas também que tinha viajado, Sentiu-se muito feliz.

"Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos"

William Shakespeare

Raymond



Vídeo sobre a mecanização do ser humano em suas funções básicas do viver cotidiano. É o andar, o levantar, o pular, o abrir, o sentar, o deitar, o dançar, aprendidos através da ciência, a ciência do viver em sociedade. Prove esse vídeo da forma que ele não passe simplesmente como um experimento de laboratório, sem fundamento para nossa vida cotidiana, mas assista ao vídeo idealizando como funcionariam esses experimentos de laboratórios na vida prática e cotidiana de cada um de nós.
Esse vídeo nos faz refletir sobre o que nos tornamos e o que queremos para a nossa vida de acordo com o que somos hoje...