13 agosto, 2008

Dois lados da moeda

Com enormes possibilidades de atuação, a fala tem tanto o poder de concertar, quanto o de estragar as relações socias. Esse poder de atuação da fala vai se tornando notório com o passar de nossos anos. Da mesma forma que aprendemos que, com o passar dos anos, existem formas de ofender, aprendemos também que existem forma de agradar. Não por que essas formas de se expressar sejam naturalmente boas ou más, mas porque o padrão de comportamento social nos força a acreditar que, quando falamos obrigado à alguém, isso significa agradecimento por um ato, algo que foi "forçado" por alguém (também podemos dizer que foi forçado pela sociedade) e que não, necessariamente, tinha a obrigação de acontecer. De qualquer forma, a maneira que nos expressamos tem conecção direta com a forma dos atos que vem à nós.

Falo "obrigado" e escuto "de nada".
Falo "desculpa" e escuto "não foi nada".
Mando "ir para o inferno" e sou mandado "também para o inferno".

A maioria das coisas que falamos cotidianamente é amplamente compreendida pelo resto das pessoas que interagimos. Quanto mais conecção as pessoas tem, mais entendimento existe entre elas. Assim, menos explicações são necessárias e menos palavras são usadas. Com o tempo, a fala pode acabar sendo substituida pela linguagem corporal, que não deixa de ser um tipo de fala, mas sem a voz e sim, com o corpo.
Mas antes de atingir tamanho estatus de interação, os seres humanos precisam se entender verbalmente, usando a voz e o corpo.

O interessante de tudo isso é que o comportamento (fala e atuação corporal), apesar de ser conhecido, nunca é compreendido em sua totalidade. Porque por mais que entendamos o significado de um determinado comportamento, aliado ao significado das palavras, nunca sabemos o que se passa dentro da cabeça da outra pessoa. Isso quer dizer que, algumas vezes, mesmo conhecendo a fundo um outro alguém, as reações dessa pessoa podem nos surpreender de mil formas.

Apesar das surpresas e da falta de entendimento para certas coisas, sempre temos que agir com serenidade e cautela. Sendo "extravagante" ou "normal", os comportamentos dos outros não podem surpreender nossas atitudes, tem que apenas somar.
Como diz Mario Quintana: "O que eles chamam de nossos defeitos é o que nós temos de diferentes deles". E essa diferença, quando posta lado-a-lado vem como incongruencia, disemelhança e aprendizado. É observando o comportamento dos outros que analisamos os nossos comportamentos. É por isso que os pesquisadores sociais enfatisam o distanciamento do objeto de estudo como um dos fatores de elucidação sobre o próprio objeto. É observando o comportamento de fora de sua perspectiva que conseguimos entender o significado que ele tem socialmente, ou pessoalmente (cada um pode ter uma analise diferente sobre o mesmo objeto). Em outras palavras, quando confrontamos nossos comportamentos com opiniões e atitudes de outros é que observamos as lacunas que deixamos quando planejamos algo na nossa cabeça e ela não funciona da mesma forma que desejamos na prática.

Por outro lado, talvez esse tipo de analise não seja interessante. E só reflita a postura utópica que algumas pessoas assumem quando desejam de alguma forma um melhor entendimento entre os seres vivos no mundo. Seja animal ou vegetal, sofremos influencia mutua e da mesma forma que ameaçamos algo, também somos ameaçados.

"...o indivíduo é um efeito do poder e simultaneamente, ou pelo próprio fato de ser efeito, é seu centro de transmissão. O poder passa através do indivíduo que ele constituiu." Michel Foucault

"Nossos atos prendem-se a nós como a luz ao fósforo: Fazem o nosso esplendor, é verdade, mas tão somente à custa e nosso desgaste." André Gide

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