30 agosto, 2008

Uma idéia Fixa

E como naturalmente so que prezam um certa virtude têm o maior desprezo pelo efeito contrário, não havia gente que o "culto" odiasse tanto quanto as pessoas simples, de inteligência parca e espírito pouco complicado. Isso chegava ao ponto dele ter desejado mudar totalmente a organização da justiça, para que, ao se descobrir alguma ladroagem grave, enforcar-se não o ladrão, mas o roubado. Era uma idéia; era a sua idéia. Achava que essa era a única maneira de apressar a emancipação intelectual do povo, e fazer com que os homens do século alcançassem o progresso supremo no espírito, na habilidade e na invenção, qualidades que ele afirmava serem a verdadeira coroa da humanidade e a perfeição mais agradável a Deus.

Isso, quanto à moral. Quanto a política, estava convencido de que o roubo organizado em grande escala favorecia mais que tudo a divisão das grandes fortunas e a circulação das menores, do que só podem resultar, para as classes inferiores, o bem-estar e a libertação.

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Trecho do texto de Gérard de Neval, entitulado "A mão encantada".

Esse trecho pode se juntar a outros textos épicos que tocam o campo do conhecimento e sua propagação. Onde vemos sempre a pessoa detentora de conhecimentos se afastar dos seres humanos que não possuem conhecimentos parecidos com o dele. Se isolando das relações sociais do cotidiano com a justificativa de não ser possível manter relações sociais com pessoas tão diferentes. Não isolando a si mesmo, mas também isolando o seu conhecimento e afastando a possibilidade de mudança social para um campo distante - não que o essa pessoa teria esse poder, mas seus conhecimentos podem servir de instrumentos. Meios que fariam as pessoas pensarem mais em saidas para suas situações do cotidiano!

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