05 março, 2009

O que vc tem a ver com isso?

Porque apoio o MST.

Eu sou José Jonas Duarte da Costa. Sou professor do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História da UFPB – Universidade Federal da Paraíba. Atualmente coordeno o curso de História para os Movimentos Sociais do Campo nesta Universidade. Sou graduado em História, mestre em Economia e doutor em História Econômica pela USP.

Diante da ofensiva de setores reacionários da sociedade brasileira contra o MST venho a público prestar minha irrestrita solidariedade e apoio a esse movimento social popular que hoje é o depositário da resistência democrática e da luta por um tempo melhor de justiça e paz na sociedade brasileira.

Minha aproximação com o MST ocorreu quando o nosso Departamento de História aprovou, ainda em 2004, um curso de história para os movimentos sociais do campo, em parceria com o PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, do INCRA/MDA, cujo demandante era o MST.

Nessa aproximação pude constatar que o MST é o que há de novo e revolucionário na sociedade brasileira, em termos de sua postura ética e dos valores disseminados. Há um código de postura no MST que se baseia na solidariedade, na justiça e na democracia interna, respeitando as diferenças, mas mantendo a unidade da ação política e social.

Nos primeiros quatro anos que convivemos com os alunos do MST, nós do mundo acadêmico tivemos a oportunidade de apreender com os (as) militantes do Movimento valores olvidados em nosso dia a dia de atividades de pesquisas e de ensino, numa universidade que parece fria diante do mundo ao redor. O MST trouxe à academia brasileira a vibração e os questionamentos de uma sociedade prenha de contradições, desigualdades e injustiças. Mas também trouxe métodos, técnicas e teorias baseadas na solidariedade com o próximo, na honestidade e na crítica corajosa da academia. Por isso conquistou a todos docentes, discentes e servidores que conheceram essa nova postura diante da sociedade alienada, consumista e individualista em que vivemos. Mostrou-se ser um pólo de aglutinação da resistência democrática. Sem partidarismos ou sectarismos, ao mesmo tempo em que se tornou pólo de aglutinação para os que lutam por um mundo de justiça e de liberdade. Para quem tem visão emancipadora para os oprimidos da Terra.

Por isso os fascistas, os reacionários e os adesistas da ordem perseguem e tentam criminalizar o MST. Porque ele, o Movimento, é avesso às injustiças. Porque não se cala diante das ignomínias. Porque denuncia a exploração. Porque organiza o povo. Porque eleva o nível político cultural das massas trabalhadoras. Porque desperta o povo brasileiro para lutar por justiça, por igualdade, por emancipação. Essa atuação do MST desperta a ira da classe dominante brasileira. Essa classe dominante que não pode ser chamada de elite para embelezar sua trajetória histórica suja e vergonhosa. Classe dominante escravocrata, preconceituosa. Que mantém sua opulência e consumismo à custa do sofrimento, da fome, da miséria e do abandono em que vivem milhões de brasileiros. Classe dominante que se associou submissa aos magnatas do capital internacional para entregar a pátria, nosso patrimônio comum. Deram de mãos beijadas a Vale do Rio Doce, a CSN, a TELEBRÁS e parte da PETROBRÁS. Classe dominante que se apropria por grilagem descarada das terras públicas na Amazônia, no Pantanal, no Cerrado e em várias partes do Brasil; que mantém trabalhadores escravos em sua sanha de acumulação nas mais modernas fazendas e usinas. Classe dominante parasitária, abarrotada de dinheiro fictício oriundo da especulação financeira e da jogatina nos mercados de ações. Enfim, classe dominante que em nada honra o Brasil e seu povo trabalhador, honesto, explorado, mas altivo.

Repudio energicamente esses representantes do poder judiciário e dos meios de comunicação, a serviço dos neofascistas disfarçados de democratas e enganosamente falando em defesa do Estado de Direito na tentativa de criminalizar o MST. Esses representam o autoritarismo, os poderosos, os que querem a manutenção da opressão e da injustiça social.

Vejam a quem serve o poder judiciário brasileiro - a instituição mais anti-democrática desse país; que de fato só observa a Lei quando é contra os pobres, os desvalidos, os indefesos. Os verdadeiros criminosos contra o povo, contra o patrimônio brasileiro e contra o Brasil estão impunes, por um poder judiciário que para esses é dócil, lento e ordinário. E a quem serve esses meios de comunicação de massa senão a esses setores neofascistas que vêm em onda no Brasil? Que entram nos lares brasileiros diariamente dizendo suas mentiras e espalhando a ideologia dos dominantes, dos exploradores. A ideologia do individualismo, do consumismo, da alienação.

Atacar o MST é atacar a esperança num tempo melhor.

Gostaria de falar sobre a experiência no curso de história para os Movimentos Sociais do Campo. E certamente falo em nome dos professores desse bravo Departamento de História que aprovou, por unanimidade, a segunda turma de História para os Movimentos Sociais do Campo, já em andamento.

No nosso curso de História tivemos os estudantes mais dedicados e esforçados da UFPB. Alcançaram um Coeficiente de Rendimento Escolar Médio de 8,65. Bastante superior aos dos nossos alunos de História do curso extensivo, que souberam acolher e apoiar a experiência magistral que desenvolvemos nesta Universidade e que mantém o curso de História da UFPB entre os dez melhores do Brasil. O índice de desistência do curso para os movimentos sociais do campo foi de apenas 3,2%. Dez vezes menos do que o índice médio da universidade. As monografias apresentadas pelos graduados em História oriundos dos Movimentos Sociais do Campo, particularmente do MST, foram destaque nessa universidade. Algumas estão para ser publicadas por editoras internacionais. Muitos desses alunos/militantes foram aprovados em concursos Brasil afora e em programas de mestrados.

A convivência com os militantes do MST nos orgulha, orgulha a UFPB e a todos que com eles socializam essa experiência. O espírito de solidariedade deles contagiou a muitos dos que com eles partilharam os estudos acadêmicos e as ações políticas na Universidade. Aos que com eles participaram das jornadas nos fins de semanas voluntários, quando realizavam limpeza no quarteirão onde estavam alojados. Quando decidiram colaborar com as colônias de pescadores da Praia da Penha, consertando barcos, redes e outros apetrechos da pescaria, quando resolveram fazer, semestralmente, mutirões de doação de sangue para o Hemocentro da Paraíba, como uma espécie de retribuição carinhosa à Paraíba pela recepção calorosa do nosso Estado a esses educandos/militante s oriundos de 23 estados brasileiros onde o MST se organiza.

Por isso não só apoio o MST, como sinto-me honrado de trabalhar com esse Movimento. Conclamo aos que lerem esse meu desabafo e concordarem com ele a cerrarem fileira numa grande mobilização internética e/ou de rua em apoio ao MST. O momento é crucial, pois em época de crise a direita mostra suas armas contra o povo e suas organizações. Revivemos momento de ameaça a vida democrática brasileira. Por isso é hora dos que defendem a democracia erguer os punhos unidos contra o avanço do autoritarismo e do golpismo. A direita quer acuar o Governo Lula em seu viés democrático, progressista.

Não podemos ficar indiferente.

Lembrando Bertold Brecht

A indiferença

Primeiro, levaram os comunistas,

mas eu não me importei

porque não era nada comigo.

Em seguida, levaram alguns operários

mas, a mim não me afetou

porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas

mas, eu não me incomodei

porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez

de alguns padres mas,

como nunca fui religioso,

também não liguei.

Agora, levaram-me a mim

e, quando me apercebi,

já era tarde.
Joao Pessoa, UFPB, dia 3 de março de 2009.

O que vc pensa sobre isso (!)?

5 comentários:

Kbça disse...

Cada vez mais me sinto convidado a uma postura como essa... participativa, responsavel.Uma participacao que nao se faz mas ingenua, mas sim atraves de um conhecimento de causa. Ate q ponto um professor que se mostra claramente partidario a uma causa pode passar uma educacao antipartidaria? Creio q a resposta e: nao existe ante partidarismo neste mundo, bem como nao o existe na educacao. Para mim voce nao discutir (e ate mesmo nao tomar partido)de um assunto real, questionador e transformador como o movimento dos sem Terra, e o mesmo que esconder os questionamentos que o mundo real empirico tras.E se alienar. E tomar, ai tambem, partido. Partido de que nao lhe interessa mudancas, de que esta bom como esta. Cooncordar e ser sim responsavel pela atual situacao de pobreza, descaso, preconceito e impunidade que a anos a `nacao brasileira` assola `o povo brasileiro`.

leogarin disse...

É isso aí mano, pessoas participATIVAS é o que buscamos ser e o que queremos nesse mundo. Sempre com reflexão, consciência e ação. Fazendo do agora uma oportunidade de atuação.

Partidarismo existe sim. Não podemos cair na ilusão de buscar o contrário. Porêm, o partidarismo que falamos é o atrelado ao esclarecimento vindo da reflexão. O esclaremimento que nem sempre é claro, que nem sempre é constante e muito menos definitivo. Entretanto, nos dá ferramentas para buscar idéias a diante.

Kbça disse...

e isso ai mano.....

Matheus disse...

Esse texto é um exemplo claro da falta de produtividade do setor acadêmico brasileiro, que acha que o seu papel na sociedade é a retórica social. O acadêmico têm que ensinar e pesquisar, criando conhecimento, não apenas vomitar ódio.

Professor José Jonas Duarte da Costa, de certo que não deve ter um pedaço de terra comprado com o seu próprio ganha pão. Mas isso seria óbvio, o que ele deveria ter feito para contribuir para a sociedade seriam artigos acadêmicos sérios, que pessoas sérias iriam estudar e consultar em futuros estudos. Claro que o professor José não apresenta nenhuma obra relevante no meio acadêmico. Claro que ele também apoia o MST.


Um pequeno trecho do texto: "Há um código de postura no MST que se baseia na solidariedade, na justiça e na democracia interna, respeitando as diferenças, mas mantendo a unidade da ação política e social."

MST, código de postura no MST???? O MST não tem estatuto, não tem regra, tem na verdade é um montão de verba pública que vem de contribuintes!!!

Colocar o MST na frente do estado de direito é falta de vergonha na cara!

leogarin disse...

Colocar o estado de direito a frente das pessoas é que é uma baita falta de vergonha na cara!

Eu tenho várias opiniões sobre ações realizadas pelo MST. E sei, pelo conhecimento que alimentei através de outras fontes de informação (não só pela TV globo ou revista veja) que dentro do maior movimento popular rural do mundo, existem diferentes vertentes e grupos de atuação diferenciados. Além disso, dada a dimensão do território nacional e suas milhões de particularidades, cada grupo enfrenta uma realidade diferente e, por isso, traça planos diferentes para superar essas dificuldades.
Colocar o movimento dos sem-terra dentro de um saco e julgar, não é coerente nem sensato. Ainda mais sem ter informações sobre a história de opressão e marginalização que vivem as pessoas que atuam nesse movimento de mudança social.

Além disso, quando se coloca a defesa de um estatuto sobre o poder e a liberdade de se auto-reproduzir e sustentar, está se reafirmando a briga de classes. Está se reafirmando os valores burgueses de posse e propriedade, que deixa uma pulga de inveja atrás de orelha.
Será que aqueles que defendem o estado de direito em beneficio de grandes empresas e grandes produtores em detrimento de pessoas marginalizadas e oprimidas não sentem a armargura do sonho não alcancado de ter dinheiro, bens materiais e poder?
E essa armargura, quando observa poderes populares tomando por força o que suor do trabalho(honesto) não trouxe, faz com que as gotas derramadas pelo esforço se tornem ódio. E aí, só restam dois caminhos, a revolta contra o movimento de retomada da liberdade ou, a união a esse movimento, e consequentemente o abandono de todas regras e principios que regeram a vida durante todo o tempo.

E para dizer alguma coisa sobre a produção acadêmica. Pergunto, produzir para que? Para colocar no currículo? Para ganhar uma bolsa da fundação Ford? Para ser valorizado e reconhecido?
Para ajudar o mundo a ir levando o atual estado de inercia economica, social, ambiental e etc? A produção está conectada a uma perpectiva capitalista extremamente destrutiva e nociva! E a academia não é nada mais que um laboratório avançado para empresas e paises. Onde o capital é usado para sugar a criatividade e abilidade de novas mentes na atividade de criar novas fontes de riqueza. E só.