21 março, 2008


Como dois passaros dourados pousados no mesmo galho, intimamente amigos, o ego e o Eu habitam o mesmo corpo.
O primeiro ingere os frutos doces e azedos da arvore da vida; o segundo tudo ve em seu distanciamento.
- Mundaka Upanishad -
No distanciamento está a sabedoria da incerteza...na sabedoria da incerteza está a libertação do passado, do conhecido, que é a prisão dos velhos condicionamentos.
E na mera disponibilidade para o desconhecido, para o campo de todas as possibilidades, rendemo-nos à mente criativa que rege o universo.
A incerteza, por sua vez, é terreno fertil para a criatividade e para a liberdade. Incerteza significa entrar no desconhecido em todos os momentos de nossa existencia. O desconhecido é de todas as possibilidades, sempre frescas, sempre novas, sempre abertas para a criação de novas manifestações. Sem a incerteza e o desconhecido, a vida é apenas uma repetição viciada de memorias velhas. Voce cai vitima do passado e o seu torturador de hoje é o que sobrou de voce ontem...

3 comentários:

leogarin disse...

é interessante pensar que a incerteza ao mesmo tempo em que pode ser considerada o terreno do fértil, do novo, da possibilidade, do ilimitado, é, ao mesmo tempo, um imenso oceano, com multiplos caminhos e infinidades de espaços, inseguros, temidos, improvaveis, o eterno questionamento.
Assim lhe pergunto, até que ponto estamos dispostos a viver o incerto ?

Anônimo disse...

...o distanciamento significa a necessidade de desistir do apego, voce nao desiste da intencao e nem do desejo...abandona apenas o apego aos resultados.
Pois o apego eh baseado no medo e na inseguranca...nesse caso a unica maneira de estar "seguro" eh estar aberto e apto a novas oportunidades que surgem sempre na incerteza...
Chego a crer que a busca pela seguranca eh uma ilusao...pois..."beijos nao sao contratos e que presentes nao sao promessas"
Quando voce tem por certo o que vai acontecer...acaba se apegando a essa ideia e abre mao de uma gama de possibilidades...ate mesmo de continuar amando.
Isso me lembra o que uma pessoa que admiro muito usa "Definir eh limitar"
Portanto eh na incerteza que cativamos as pessoas que amamos...todos os dias!
Eu vejo a incerteza como um fato aonde o objetivo eh se familiarizar e conviver com ela em harmonia...aceitando as novas experiencias...
Disse Franz Kafka:
" Voce nao precisa sair do seu quarto. Fique sentado diante da mesa e ouca. Nao precisa nem esperar, aprenda somente a ficar quieto, silencioso. O mundo se oferecera espontaneamente a voce para ser descoberto. Ele nao tem outra escolha senao jogar-se em extase a seus pes."
A incerteza eh mais constante do que a certeza...viveremos na incerteza por toda a vida...
Sem a incerteza nao ha o questionamento que eh a mola propulsora da mente...



...desculpa a falta de cedilhas e acentos...justifico com teclado diferente...

leogarin disse...

logicamente.
Condordo com seu ponto de vista caríssima. O que coloquei acima foi um mera provocação. Que é a provocação constante que os anarquistas sofrerem quando propoem qualquer solução de transgressão das normas.
Entretanto, reafirmo que essa condição de acatar a incerteza como fim último, apesar de ser ideal (no meu ponto de vista - e pelo visto no seu também) é dificílima de ser posta em prática. Penso que isso acontece porque o incerto é muito variavel e essa variação pode surpreender, ou até mesmo, ofender aquele que espera o que já vem de costume.
A transgressão do normal, do natural e do cotidiano deve vir companhado de uma boa justificativa, algo que explicite aos participantes do jogo social o porque das mudanças de regras. Ai sim a incerteza tem campo fértil. Por outro lado, quando as regras já se iniciam fundamentadas na incerteza, esse trauma não ocorre, e o jogo flui com facilidade e sem constrangimentos.
Mas, aí que entra a questão. Até que ponto estamos dispostos a conviver em um jogo sem regras, ou em um jogo onde a regra é não ter regra. Isso não te cansará???
Temo a incerteza ao mesmo tempo em que a idolatro e a considero fundamental a minha condição social. Sem ela não viveria, sem ela me prenderia em uma mundo já descoberto, em um mundo em que não tenho motivações para viver. Quero ser a perspectiva eterna do incerto. Aquele que surpreende, que seduz, que conquista pela obcuridade e pelo mistério que faz, do esperado um grande ponto de interrogação.

Sei que as pessoas já esperam coisas prontas. E talvez dando como resposta essa "coisa pronta" adquirimos reconhecimento (como o texto do machado de assis que postei acima). Espero dar as pessoas o que elas esperam, algo novo e totalmente comum. Ilustrando com a passagem de kafka (mas dando uma piorada na frase) - espero mostrar as pessoas os diferentes trajetos que elas podem fazer no mesmo caminho.

Talvez esse perspectivismo seja o melhor camilho para se convencer uma pessoa a aceitar a incerteza ... (que não deixa de ser a possibilidade do novo)