17 março, 2008

Atitudes e consequencias


O trabalho acima trabalho foi realizado por Marcos Chaves e apresentado na Escola de Cinema Darcy Ribeiro (http://www.escoladarcyribeiro.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home). "Chaves é um realizador de proposições artísticas que, através da apropriação ou da intervenção, deslocam significados correntes, banais, convencionais, dados como certos, a fim de gerar a aparição de novos sentidos, inesperados, não vistos, não perscrutados. Trata-se do olhar agudo que se descola do habitual, reflete e produz o novo na linguagem, tendo como motor um misto contundente de humor e ironia. A escolha por estes recursos de forma alguma é casual, e sim consistente e coerente, pois eles são portadores de um alto grau de potência desviante: o humor e a ironia são dispositivos que acertam o alvo pelo caminho menos óbvio." Diz Luisa Duarte em artigo para o sitio rizoma.net(Acesse o artigo: http://www.rizoma.net/interna.php?id=168&secao=colagem).

Contrariando Luisa Duarte, na minha opinião a arte de Chaves chega a beirar o moralismo. Com essa frase - Passarinho que come pedra sabe o cu que tem - o autor credita ao propositor da ação o ônus da causa da mesma. Parece que para Chaves está no próprio indivíduo a raiz das conseqüência das ações praticadas pelo ator social. Assim, o autor dessa arte credita ao praticante dos atos as admoestações que o mesmo pode sofrer.

Esse é um ponto de vista, e dentro dele penso eu que essa é uma forma simplista de observar a vida, que vem caracterizada por uma visão individualista e alienante, existente de forma latente no modo de vida capitalista que vivemos hoje. Onde cada um deve assumir suas ações diante do coletivo e arcar com as respostas que esse coletivo dará. Isso faz com que pensemos que a vida é individual, atomizada do resto da sociedade, e que não sofre influências constantes da mesma. Faz também com que achemos normal as diferentes punições para cada tipo de delito, padronizando as transgressões como crimes para a sociedade(pensando nessa enquanto "corpo") e que devem ser seguidos de punições para a preservação do todo. O cerne dessa crueldade de pensamento é acreditar que essas punições tem algum propósito além da restrita proposta de servir como exemplo aos que ainda não transgrediram as leis (ou alguém ainda acha que a prisões modernas [na atualidade] e as punições corporais [na antiguidade - presentes até hoje] servem para alguma reabilitação individual ou tentativa de reinserção na social).

Ao mesmo tempo em que a arte de Chaves porta esse caráter reducionista(como expus brevemente acima), ela também amplia os horizontes do questionamento individual(como explicitou Luisa Duarte). Encontramos assim um jogo de possíveis leituras, que podem nos levar a proposta do individualismo atomizado, como explicitei acima ou a idéia da libertação, do desvio como crescimento e não como redução, como disse a Luisa Duarte.

Minha idéia nessa postagem é apenas levantar a possibilidade de diferentes leituras para o mesmo objeto. Poderíamos entrar em uma grande e profunda discussão sobre a arte e o corpo simbólico que essa levanta. Mas aqui só procurarei levantar a bola, aquecer o debate e incentivar o questionamento sobre o que e como entramos em contato com as coisas que estão ao nosso redor. Para podermos questionar o que representa a mídia de massas e como o indivíduo interage com ela. Será que todos temos as mesmas conclusões sobre o que entramos em contato ?

Um belo exemplo disso é o filme Tropa de Elite. Sendo considerado fenômeno nacional essa película surpreendeu muita gente e principalmente levantou diversas discussões sobre as propostas da arte pela visão do autor. Eu pude acompanhar diversas opiniões sobre o filme e diretamente vi a entrevista que o próprio diretor do filme, José Padilha, concedeu a TV Cultura em 18/10/2007 (Acesse a entrevista: http://www.tvcultura.com.br/rodaviva/busca.asp?txtBusca=jos%E9+padilha)

Além de acompanhar os debates sobre o filme, também pude assistir ao filme diversas vezes, aprofundando cada vez mais minha opinião sobre esse filme e as conseqüências dele ser produzido, divulgado e de ter se tornado fenômeno nacional.

Como não poderia ser diferente, aproximo o resultado da arte realizada por Marcos Chaves ao resultado do que foi produzido por José Padilha. Criminalização da pobreza, crítica simplista ao tráfico de drogas, violência gratuita, manual prático de tortura barata e exploração comercial do problema social. Isso poderia parecer uma dura crítica ao filme, mas também vejo boas coisas nesse filme produzido por José Padilha. Observo coisas boas porque além da película produzida por esse diretor também vejo nele a história de seu diretor, seus sonhos e sua personalidade (principalmente no programa roda viva). Relembro outro filme do mesmo diretor que não vi inteiro, mas assisti boa parte e ouvi muitos comentários a respeito, Ônibus 174. Com esse levantamento contextual reflito sobre as intenções e idéias desse diretor, chegando a conclusão que o aparecimento dessa película - Tropa de Elite - assim como o Ônibus 174 - assim como despertar o que eu já disse, criminalização da pobreza e coisa e tal, também surge como um grande motivador e proporcionador de debates sobre nossa condição social atual. Fazendo com que isso não seja esquecido ou escondido nas favelas ou atrás de conjuntos habitacionais como cohab´s ou cingapuras.
A Arte, assim como o filme (sendo uma manifestação da própria arte), suscita debates, levanta questões e trás para a cena o que se encontra atrás dos palcos. Nem sempre teremos a visão que o artista fez de sua obra. Mas podemos nos aproximar dessa visão(não que seja necessária essa aproximação) procurando conhecer um pouco mais sobre o seu autor. Assim como quando você assiste a um espetáculo (seja um futebol, uma peça, um evento ou a uma simples aula de colégio ou de universidade), o conhecimento de quem, como e porque são esses atores que apareceram no palco faz toda a diferença na hora de se fazer a leitura do que está sendo mostrado.
Para terminar finalizo com uma frase de Mario Quintana que pode vir a levar as pessoas a refletirem sobre o carater da arte e como deve ser nosso comportamente diante de seu entendimento. Aí vai:
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

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