04 janeiro, 2010

Ano novo no ponto de vista de um trabalhador ilegal.

Quando a inocencia termina e o sonho de criança se vai, deixando para tras um cotidiano cruel dada a massificação do trabalho diário, as sensações humanas se transformam em suspiros passageiros que não se fazem mais sentir. Apenas alguns momentos atípicos servem de inspiração e filosofia, na dura caminhada do dia-a-dia pelo pão que alimenta os sonhos.

Entre indas e vindas, a maioria dos momentos de inércia e estagnação são separados por segundos de conflito interno. A não congruencia nas atitudes externas leva a um desentendimento do exterior, trazendo para dentro do trabalhador um sentimento contraditório ao sentimento de letargia que o aflinge todos os dias.
O trabalhador está acostumado com a frieza no tato. A falta de energia nas gratificações. Com a cobrança do patrão. O criticismo do clientes.
Ele sabe muito bem o que é se sentir excluido do ambiente em que está. Também sabe se comportar da melhor forma possível para que isso não seja evidenciado e demonstrado.
O trabalhador tem plena noção do que faz e onde faz. Sabe o que é trabalhar pesado e sabe quando está coçando o saco. Entende a justiça no salário em que ganha e despreza a injustiça na repartição dos lucros.
O trabalhador não escolhe entre dias, horas, meses e anos.
Ele trabalha.
E para ele não existem feriados prolongados ou datas comemorativas.
A jornada é dura e existem os dias em que trabalha e os dias em que não trabalha.
O resto é para os outros, os que podem.
A cachaça acompanha a caminhada. Assim como a família e os amigos.
A sua situação não deixa com que aproveite a vida.
Não pode fazer barulho. Não pode revirar o lixo dos outros.
Não pode protestar, reclamar, respirar.
Um passo errado e o sonho se foi.
Tudo acaba e a história continua. O que poderia ser diferente é igual novamente.
Mais um dia na vida do trabalhador ilegal.

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