29 abril, 2009

Humor ou reprodução da violência


Uma camiseta ostentando uma palestina grávida sob uma alça de mira e a inscrição "Um tiro duas mortes". Foi a imagem escolhida por snipers (atiradores de elite) da infantaria israelense. Outras t-shirts exibem bebés mortos, mães a chorarem sobre os túmulos dos seus filhos, armas apontadas a crianças e mesquitas bombardeadas. Há uma loja em Tel Aviv especializada em imprimir as ditas camisetas e cada pelotão escolhe a imagem que vai usar. As atrocidades praticadas pela entidade nazi-sionista já não são escondidas – são mesmo exibidas.

Essa proposta já saiu de Israel e encontrei as camisatesas sendo vendidas na Irlanda, nas lojas de Dublin.

Será esse um humor refinado ou mera reprodução da violência ?

Tem coisas que perdem a razão ...

17 abril, 2009

Estupro



Palavra forte

Todas as vezes que ouvimos a palavra estupro nos recordamos de sinônimos como: coito forçado, ameaça, constrangimento, trauma, violência, violação, perda dos direitos sexuais e perda da liberdade.

Apesar de ser uma palavra totalmente carregada de negatividades, o ato do estupro pode ser julgado de diferentes formas, dependendo do caso de estupro.
Algumas pessoas acreditam que a violação dos direitos sexuais de uma menina de 10 anos é completamente diferente da violação dos direitos sexuais de uma mulher de 30 anos e por isso deve ser julgado de outra forma. A razão para essa opinião - inocência, ou a falta dela.

Dizem que quando criança, até o momento da adolecência, um ser humano é incapaz de expressar forçadamente a sexualidade ou se incinuar sexualmente de propósito. Todas as suas atitudes e reflexos estão condicionadas a inocênia de seu estado. Um estado que ignora a prática sexual e que não se importa com o comportamento do corpo (apesar de seu corpo já estar adestrado de acordo com as regras sociais - isto é - já carrega sensualidade e intenções, mesmo que elas sejam não intencionais).

Entretanto, quando uma mulher de 30 anos coloca uma mini-saia para sair de casa e se movimenta confortavelmente pela rua, ela está automaticamente se colocando na condição de vítima, ou seja, ela está provocando a condição de violada.
A idéia de colocar a vítima como uma influenciadora direta da condição de estuprada não é de hoje. O reflexo desse pensamento moralista pode ser constatado em qualquer pesquisa de opinião popular que pergunte aos intrevistados opiniões simples sobre o comportamento do corpo e o uso das roupas.

Para ilustrar, podemos pegar alguns dados elaborados pelo jornal "Irish Examiner" (Irlanda) e republicada pela revista "RAG" (revista do grupo anarcha-feminista de Dublin - http://www.ragdublin.blogspot.com/):
  • 25% percent of people questioned believe that women who had been raped were in some way to blame for the attack.

  • 10 % of people think the victim is entirely at fault if she has had a number of sexual partners.

  • 37% think a woman who flirts extensively is at least complicit, if not completely in the wrong, if she is the victim of a sex crime.

  • One is three think a woman is either partly or fully to blame if she wears revealing clothes.

  • 38% believe a woman must share some of the blame if she walks through a deserted area.

  • 25% believed a woman who was drunk and took illegal drugs was either partly or fully to blame.
De acordo com os dados levantados, podemos ver a sociedade irlandesa como parcialmente reacionária. Foram menos de 40% das pessoas entrevistadas que colocaram a culpa sobre a vítima, isentando parcialmente o estrupador pelo crime cometido.
Apesar do número de entrevistados reacionários não ser grande, preocupa o fato deles existirem.
Chama ainda mais a atenção quando a opinião do grupo sobre o ato do estupro começa a ser relacionado com outros comportamentos como, o consumo de drogas e álcool, a escolha pelo caminho público(ruas - ilumindadas ou mal-cuidadas) e, principalmente, as roupas escolhidas para o passeio aos locais públicos.

Será que o uso de substâncias (drogas e alcool) aumenta a chance da pessoa ser estuprada?
Pode até ser. A pessoa fica mais vulnerável. Mas isso não tem nada ver com o estuprador. É ele que provoca o estupro, é ele que força a situação. Quem utilizou as substâncias danosas não está pedindo, como o uso das substâncias, para que se torne vítima de nenhuma situação. Ou seja, não tem nada a ver culpar a pessoa que usou drogas ou álcool de ser cumplice sobre o ato. O coito forçado e o uso de drogas são coisas completamente diferentes.

Culpar a escolha do caminho público como sendo primordial no condição de ter seus direitos sexuais violados também é irracional. Ao invês de culpar o Estado ou os responsáveis pelos maus cuidos dos locais públicos, algumas pessoas preferem culpar a vítima do estupro como responsável pelo ato inconsequente de escolher caminhos "perigosos" em suas idas e vindas. A escolha das vias públicas se torna uma escolha da vítima no que se refere ao seu próprio desejo em se expor ou não ao estupro.

E para terminar, a escolha da roupa.
Esse ponto é mais delicado que os demais mencionados acima.
Aqui temos o moralismo claramente atuante como um influenciador direto na opinião das pessoas.
A partir do momento em que uma pessoa começar a julgar o uso de determinadas roupas por outra pessoa, o moralismo começa a pesar.
Não discordo que alguém possa utilizar determinadas roupas com a intenção de provocar reações. Mas também essas reações estão condicionadas aos tabus presentes no corpo humano.
Se aceitarmos o corpo humano, e seus movimentos, como algo em si, destacados de moralismos e tabus, provavelmente começaremos a reconsiderar a utilização das roupas e suas intenções.
A roupa viraria uma condição de conforto, e não mais de posição social e proposta.
Entretando, essa idéia está muito longe do real. O corpo humano, seus movimentos e as roupas estão transbordando de tabus e idéias prontas, pré-conceitos que determinam sua presença, utilização e reprodução.
É por isso que um de cada três irlandeses acreditam que a mulher é culpada de estupro se estiver utilizando roupas provocativas. E acredito que os números produzidos com essa pergunta devam se reproduzir pelo mundo afora.

Quem, de qual país do mundo, discordaria que mini-saia e decote muda a relação de uma pessoa com outras? Algumas sociedades até proibem essas vestimentas.
Algumas sociedades proibem as mulheres de ter vida pública.

Esse assunto dá muito pano para a manga. Vou parar por aqui.

a opressão está por todos os lados...