08 julho, 2008


Sempre que penso uma coisa, traio-a.
Só tendo-a diante de mim devo pensar nela,
Não pensando, mas vendo,
Não com o pensamento, mas com os olhos.
Uma coisa que é visível existe para se ver,
E o que existe para os olhos não tem que existir para o
pensamento;
Só existo diretamente para o pensamento e não para os olhos.

Olho, e as coisas existem.
Penso e existo só eu.

Poemas Inconjuntos
Alberto Caeiro

A mente humana é como um projetor, ela projeta significados e sentimentos e se recusa a encarar fatos e situações como realmente são, prefere fugir deles em alguma ficção boa ou má, que projeta sobre a realidade dos fatos.
Penso que para Fernando Pessoa, o correto seria nos livrarmos da enxurrada de sentimentos não saudavéis e rótulos de significação que entulham nossos pensamentos devido aos hábitos e vivências, que por sua vez modelam nossa mente em uma forma -fictícia- enquanto que a sua forma real, sua verdadeira natureza, permanece encoberta por toda a vida, tornando-nos reagentes.
Uma mente que unicamente reage é uma mente mecanizada, que nos impede de agir de acordo conosco mesmo. Uma mente reativa é controlada pelos estímulos exteriores, estímulos esses que envolvem modo de sentir, de se comportar, ou mesmo de entender o que se encontra a nossa frente.
A mente que não tem objetividade reage e a consequência desse automatismo é que ele impede a visão e coloca-nos sob o encanto do "pré-conceito"
O real é a natureza de cada um e o que se percebe e sente através dela...
Olhar as "coisas" sem os olhos do pré-conceito e livre de todos os possiveis julgamentos que nos acompanham durante a vida...conforme vamos recebendo e assimilando informações...
Talvez olhar com os olhos da naturalidade...pois quando olhamos com o pensamento as "coisas" deixam de ser elas por si só e tornam-se o que nós cremos que são...